O meu mundo: Já não sei o que fazer ou pensar...desta vida!
sábado, 16 de novembro de 2013 - 0 comentários

Já não sei o que fazer ou pensar...desta vida!


Tenho passado por cada coisa desde pequeno, perdi o meu irmão à nascença e desejava muito que ele estivesse aqui comigo, ao menos tinha quem me confortar e apoiar! Estive várias vezes entre a vida e a morte e não foi nada fácil de estar cá hoje no mundo, vivo, sobrevivi a muito custo e graças à minha pediatra que me salvou e me deu vida! Isso marca-me imenso e choca-me porque é que tenho uma vida inteira de sofrimento desde pequeno até agora!
Já passei por dezenas de problemas, fui um bebé muito forte para conseguir estar cá hoje quase "perfeito", pois tive uma paralisia cerebral mas felizmente correu tudo bem e são mínimas as sequelas que apresento.
Depois na escola comecei a sofrer de bullying por parte dos colegas de turma, fizeram-me mil e uma coisas, desde o 5º ao 9º anos passei tempos horríveis, sofri sozinho, não tive ninguém do meu lado, não tive quem me ajudasse na hora que mais necessito, guardei tudo para mim, passei a sofrer sozinho, só quando já não aguentei mais um dia cheguei a casa e contei tudo a minha mãe! Ela foi à escola falou com a minha directora de turma e de nada resolveu continuei a ser gozado, espezinhado, maltratado, conhecido pela escola inteira, etc. Desde o 7º ano que já queria mudar de escola e minha mãe sempre disse que não, ate que no 9* ano aí sim mudei de escola de passei a estudar noutra cidade em vez da minha área de residência.



No início, tudo parecia estar bem mas a certa altura recomeçou o tormento, cheguei a ser ameaçado na escola por colegas da minha própria turma com uma navalha e um isqueiro, depois também entraram no meu facebook e publicaram que era homossexual e que um amigo meu tinha me ajudado a assumir a minha homossexualidade perante todos, reagi muito mal perante tal coisa... Mais uma vez não contei nada aos meus pais, depois de tanto sofrer e do medo que tinha que me fizessem mal fora da escola, resolvi ficar calado, tornei-me numa pessoa fria, distante de tudo.

No 11º ano o inferno voltou, desta vez foi bem pior, colegas da minha turma leram o meu ask.fm  (eu lá fazia a mínima ideia que eles liam essa minha rede social) e descobriram que eu gostava de rapazes (pois estava lá bem escrito) e a partir daí passaram a gozar de mim, a por piones nas cadeiras onde me sentava, chegaram a desenhar um pénis e deixaram na minha secretária numa aula de Filosofia, entornarão-me uma garrafa de leite em cima da minha roupa e foi um tormento, mais uma vez, não consegui dizer o que se passava a minha mãe ela  não fez a plena ideia de nada do que se passou, não lhe conto nada,  porque sei que vai dizer que a culpa é toda minha de estar nesta situação! A minha turma não tem ninguém que preste, o único amigo que tinha na turma difamou-me (fez-se passar por homossexual, a fim de obter fotos minhas nu para se vingar de mim, sei lá porquê, eu nunca fiz-lhe mal a ele, nem sou capaz de fazer mal a uma mosca) por toda a escola e inventou boatos sobre mim, passei realmente um mau bocado! (Arrependo-me tanto de ter mandado aquelas fotos - mas também o rapazinho foi bem lixado, as pessoas começaram a dar-lhe o pé para trás...
Lembro-me de me virem contar que ele tinha andado a mostrar o meu tumblr às funcionárias de lá da escola para me difamar que na altura estava cheio de fotos de rapazes descompostos...mas quando as pessoas se aperceberam do mal que ele me estava a fazer, começaram a fazer gozo dele!
Até um dia ele entrou na escola a dizer: "Olhem hoje a Maria (eu) esticou o cabelo!" Mas todos começaram a cortar o mal pela raiz...
Inclusive tive uma pessoa muito amiga a quem ele mostrou uma fotografia minha nu, disse-lhe: "Isso é beleza artística! Tu não tens nada de andar a difamar o rapaz, nem tu nem ninguém! Não interessa se ele é gay ou não, e se for não tens nada a ver com isso! Mete-te na tua vida, senão vais ter problemas!"

Já não me basta o que se passa em casa, ainda em todo o sitio que tenho passado desde há dois anos para cá! Não aguento deveras ficar mais um ano cá na Madeira, não quero voltar para a mesma escola, para a mesma turma novamente, não quero sofrer mais um ano, às vezes falto as aulas por já estar farto das coisas todas e não querer nada aturar a minha turma !
Não resolve de nada ter uma conversa com os envolvidos pois, já o fizeram e as pessoas são do tipo que não prestam para nada e umas criancinhas autênticas sem maturidade para a idade que têm e que só gostam de ver os outros mal e de subir na vida deitando os outros abaixo!

A minha família e outros nem fazem ideia de como eu tenho andado, é problemas na escola que tenho tido, calhei numa turma que não presta para nada, já gozaram de mim e me difamaram por tudo e mais alguma coisa…às vezes só me apetece mesmo é desistir de tudo, mas vou lutando dia após dia, com forças vindas nem sei de onde. Quero muito ter uma vida diferente, quero recomeçar do zero, eu sou um rapaz que tem muita falta de amor e carinho, quero recomeçar a minha vida fora daqui (em Lisboa), fora desta maldita ilha.

Eu, já estive com uma depressão (começou no verão de 2012 e acabou em maio de 2013) e foi mesmo muito mau, cheguei a ter pensamentos de suicídio, e o meu maior medo é voltar ao mesmo com este caus de situação que tenho vivido no dia-a-dia, pelo que vejo vou dar em maluco e cair no mesmo buraco sem fundo outra vez, se isto continua assim.
Sinto que preciso de estar um tempo só longe daqui, resolver antes de tudo os problemas que tenho comigo, e só depois um dia mais tarde (os meus pais também precisam de um longo tempo para interiorizarem as coisas que se tem passado nos últimos tempos e acreditar que nada podem fazer contra eu ser homossexual), eu preciso um tempo longe deles e eles um tempo longe de mim, a fim de tudo se compor.

Em maio recebi um e-mail de um psicólogo que me contactou, dado que recorri à AMPLOS e à própria rede ex aequo a fim de me poderem ajudar com toda esta situação gigante que não está a ser nada fácil. Custa, e está a ser bastante doloroso estar na escola a conviver com colegas que me tratam tão mal e querem afundar a minha carreira.
Não tenho malta amiga, os ditos "amigos" nem se lhes devia chamar assim, mas ok, esses só sabem dizer coitadinho e há tenho pena de ti, não fazem nada para ajudar-me.... e quando estou mal e preciso de alguém todo o mundo desaparece e vai embora!
Os únicos amigos que tenho tido, são os que tenho conhecido através do fórum da rede ex-aequo, e amigos de amigos! O problema é mesmo todos estarem longe de mim...

Email do Psicólogo (Clique em Ler Mais)

Ao ler a sua história, e à semelhança do que vou observando em muitos jovens que vivem situações adversas deste tipo no contexto familiar, verifico uma certa confluência entre aquilo que são as atitudes de carácter homofóbico com os padrões de comunicação que a família já tinha consigo antes de descobrirem a sua orientação sexual. Muitas vezes, torna-se difícil distinguir em que medida as atitudes que a sua família tem para consigo (principalmente a sua mãe) se devem ao facto de ser gay ou a outros factores.

Constatei que a história da sua família é marcada pela existência de factos traumáticos, nomeadamente a morte às nascença do seu irmão gémeo. Dá-me ideia de que essa morte sempre foi pairando na família e, provavelmente, sempre viveu com as sombras da comparação com esse irmão que, por não existir, foi construído e projectado no plano das possibilidades como alguém possuidor de um conjunto de características ideias. Talvez isso sempre tenha feito parte da sua vida , mas sendo a homossexualidade encarada como um estigma pela sua família, essa comparação com alguém visto como ideal seja ainda mais forte . Aqui é importante assumir que, e apesar desta realidade sempre ter feito parte da sua vida, este não é um problema que deva ou tenha de carregar. Tem direito a ser quem é, a ter uma voz própria, a ser você próprio. Não é de todo responsável por este processo algo tortuoso que os seus pais, inevitavelmente também com um grande sofrimento, foram arrastando pelas suas vidas.

Tendo em conta o que foi relatando e assumindo que precisa de algumas respostas mais concretas/linhas de acção, penso que deve reflectir sobre os seguintes pontos:

1. Tendo em conta que já teve alguns acompanhamentos psicológicos, onde sentiu que houve alguma interferência por parte da sua família, podemos pensar em alternativas para encontrar um/a terapeuta com quem possa falar sobre estas questões. Aqui, podemos tentar ver o que existe no Sistema Nacional de Saúde ou eu posso tentar averiguar junto dos meus/nossos (incluo aqui o contributo da AMPLOS) contactos se existe alguém com formação nestas áreas LGBT que o pudesse receber;

2. Precisa de alargar a sua rede social para ir lidando com esta pressão que sente. Sei que tem alguns amigos, mas  a participação no fórum da rede exquo (associação de jovens LGBT) pode ajudar a romper com o isolamento que sente. É possível que por esta via possa conhecer outros jovens da Madeira que estejam a viver situações semelhantes à sua;

3. É fundamental concentrar-se no seu projecto académico. É uma oportunidade para abrir horizontes e construir a sua autonomia. Procure e recolha toda a informação que necessita para pôr esse projecto em marcha;

4. Em relação aos seus pais, tente não alimentar as interacções em torno do assunto orientação sexual. Eles não estão preparados para falar sobre o tema sem que surjam conflitos....Poderá ser interessante começar a centrar as conversas no seu projecto académico. Inicialmente, eles poderão até recusar falar no tema ou fazerem a conexão (esperada) entre a sua vinda para Lisboa e a necessidade de se libertar desta tensão ou de poder viver de forma aberta a sua afectividade/sexualidade. Pode ser difícil, mas se apresentar o seu projecto de forma firme, consistente e detalhada os seus pais serão obrigados a olhar para si de uma forma distinta, ou seja, como alguém que encerra em si bastante determinação.

5. Acredite que não está sozinho nesta fase. Pode contar connosco para ajudar. Esteja seguro de que vamos estando por aqui. Está numa fase difícil, mas há muita coisa para descobrir. Viver tem muitos desencontros, mas também se reveste da magia e da surpresa dos encontros.

Espero que algumas destas ideias o ajudem. Vá dando notícias.

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